Ode ao Grischun

Vals, Grischun © Susana dos Santos
Durante anos subsistiu a incógnita – onde fica esse lugar que chamo casa?
A minha pátria, tal como Pessoa, é a língua portuguesa, mas o meu lar, o sense of home, esse levou anos a desvendar.
Depois de todas as intempérias finalmente encontrei a resposta e por isso hoje volto al Grischun, nach Graubünden, al Grigioni. O território perdido no meio dos Alpes que me conhece desde sempre, que conheci antes mesmo de ter consciência do meu eu. Esse lugar que me observou menina a apanhar flores nos campos e a fazer bolas de neve nas suas encostas, o mesmo que me viu skiar, escalar as montanhas, nadar nas águas cristalinas dos lagos, dias, meses, anos a fio.
Volto, no dia do meu aniversário, porque morar na Suíça, não é o mesmo que estar em casa. A Suíça central é muito diferente do Grischun, as pessoas são menos cordiais e andam stressadas. Os edifícios são caoticamente arrogante e a Natureza quebra-se perante o carro, o barco, o desfile de vaidades que acontece todos os fins-de-semana.
Por isso, aqui estou, pelo cheiro da minha infância, pelas chamonas nas quais dormi, porque este lugar guarda nas pedras as lembranças de quem sou. 
Aprendi aqui a ouvir o silêncio, a respeitar e a ajudar o outro, a amar e a preservar a Natureza. Nestes trilhos descobri o significado da palavra esforço, agradeci o milagre de uma nascente de água. Foi nestas montanhas, neste lugar que me fiz gente e aprendi coisas que não vem nos livros.
Tentei amizades com esquilos, deslumbrei-me com as acrobacias dos chamuochs e aprendi a chamar por nome próprio cada uma destas árvores. 
Estou aqui, voltei meu amado Grischun, mas tu nunca partiste, fazes parte de quem sou, reconheço no meu caracter os vincos do que foi crescer aqui. 
Nenhum lugar desperta em mim este afecto…respiro fundo e adormeço tranquila…finalmente cheguei!

Atelier L`Agnès: