A perda

Kally

Suguei todas as más energias até que não deu mais

Quando me encavalitei aos teu pés, não exalavas a tristeza medonha 

com a qual agora te deixo

Deixo-te

Hoje num dia de chuva, suspiro pela última vez,

enquanto tu continuas a importares- te com a limpeza

Amei-te tudo o que pude

Já não há mais tempo

Já não tenho a energia para ver-te florescer

Dói-me deixar-te, deixar-vos

Deixar o ninho onde nós os três crescemos

Eu

Deixaste-me hoje

Chove, chove como vai chover durante muitos dias no meu coração

É culpa minha, não é?

Desisti de mim e com isso de ti, de nós

Queres com a tua partida deixar-me nos mais profundos dos poços?

Sei que não. Sei que ainda não querias partir

Fui eu que te deixei ir e não tu que me abandonaste

Não há escapatória para mim

Aqui onde amanheço, esmoreço

Renascerei como uma fénix ou então serei vazio

Ama-me mais um pouco

O tempo passa, Kally

As horas continuam a correr sem tu estares aqui

Agora vejo

Agora vejo e entendo tantas coisas que não percebia antes

Não foram os móveis que encheram as casas onde moramos

Foste tu

A tua presença irradiava tanta luz que preenchia até os cantos mais sombrios

Por vezes sinto-me irritada contigo porque te foste

Não há caminho onde tu não estás

O teu companheiro de brincadeira está inconsolável