Linhas

Phillips Headquarters under construction, Eindhoven, 1961 photo by Aart Klein
Fim de dia de um dia qualquer.
Hoje dei por mim a pensar, que coisa é esta de ser arquitecto…
Pela primeira vez, de forma sentida e não hipotética senti um repudio enorme pela profissão. Muitas das vezes não sei se sou uma pessoa ou se faço parte de uma máquina, a máquina a qual fico ligada 8h30 por dia sem mais nada. 
Linhas…linhas e mais linhas de forma esquizofrénica.
Caminho pelas ruas; linhas, linhas e mais linhas…
Os edifícios que era suposto amar, uma confluência de linhas, ódio. 
Não há contacto humano, beleza ou sinfonia apenas linhas, uma infinidade de linhas. Nós os super intelectuais arquitectos, que construímos para o Homem e de humanidade não entendemos nada, linhas… 
Nós os arquitectos, que conhecemos todas as bandas, os últimos álbuns, na nossa solidão e relação simbiótica com o ecrã.. E todo esse tempo dava para ser feliz, muito feliz se em vez disso tivesse apenas escolhido ser o vendedor de gelados da esquina, a veterinaria que cuida de animais todos os dias…
O ser humano que sente e pode sentir, sem esta relação calada, unilateral; de nada dizer, de tudo racionalizar…em volumes e linhas, cada dia, todos os dias da  minha vida!