Casas como gente

Parte I –  A casa das portadas verde-esmeralda









1935 © Susana dos Santos






Corria o ano de 1935, no centro da Europa nascia secretamente e contra o Tratado de Versalhes a Luftwaffe da Alemanha Nazi. A Itália invadia a Etiópia sem sofrer qualquer tipo de condenação, nem mesmo quando fez uso de armas químicas contra civis. Aquando da invasão a Etiópia era governada por Hailé Selassié, um homem que lutava pela igualdade.

“Enquanto a filosofia que declara uma raça superior e outra inferior não for finalmente e permanentemente desacreditada e abandonada; enquanto não deixarem de existir cidadãos de primeira e segunda categoria de qualquer nação; enquanto a cor da pele de uma pessoa for mais importante que o brilho dos olhos; enquanto não forem garantidos a todos por igual os direitos humanos básicos, sem olhar a raças, até esse dia, os sonhos de paz duradoura, cidadania mundial e governo de uma moral internacional irão continuar a ser uma ilusão fugaz, a ser perseguida mas nunca alcançada. E igualmente, enquanto os regimes infelizes e ignóbeis que suprimem os nossos irmãos, em condições subumanas, em Angola, Moçambique e na África do Sul não forem superados e destruídos, enquanto o fanatismo, os preconceitos, a malícia e os interesses desumanos não forem substituídos pela compreensão, tolerância e boa-vontade, enquanto todos os Africanos não se levantarem e falarem como seres livres, iguais aos olhos de todos os homens como são no Céu, até a esse dia, o continente Africano não conhecerá a Paz. Nós, Africanos, iremos lutar, se necessário, e sabemos que iremos vencer, pois somos confiantes na vitória do bem sobre o mal.”  – Discurso na Liga das Nações (1936)




Estavámos no ano de 1935 quando a casa com portadas verde-esmeralda tomou forma, nasceu para ser abrigo, ergueu-se em tempo de guerra e guarda até hoje, o túnel de fuga, o bunker de refugio. A casa que carinhosamente irei apenas chamar, 1935, veio-me parar as mãos na doçura dos seus 80 anos, conhecer cada um dos seus detalhes foi como conhecer alguém, fazer um amigo. A lição que retiro, sempre, até da mais pequena intervenção arquitectónica, centra-se em deixar ser, o lugar e/ou construção que me é apresentado. Esse caminho feito de descobertas intimas, faz-me sentir apaixonada pela a oportunidade única que é conhecer espaços, tempos, pessoas e pensamentos que já aconteceram, que ficaram, que estão perdidos mas podem ainda ser resgatados… E se estiver com o coração e mente no lugar certo, criar e/ ou recriar espaços onde novos ideais possam surgir, onde outros possam perdurar; e deixar viver – não conheço maior beleza que essa.