Eu nasci velha

Mark Strizic

11 de Maio de 2011, final de tarde
Li algures, ou talvez tenha ouvido “nasci velha”. Tenho tido ao longo do tempo esse sentimento. Há uns anos atrás a ânsia de viver tudo o mais rápido possível turbava-me muitas vezes os sentidos, mas hoje não é assim. Na procura do quem sou e do que faço aqui, encontrei a paixão na janela de Adolf Loos e o humanismo em cada detalhe de Alvar Aalto. Quantas vezes encontram estas duas qualidades juntas? No caminho que faço várias vezes para a FEUP reparo na passagem por baixo da ponte. Tenho vontade de trabalha-la, com textura, cor e transforma-la num prolongamento das fileiras de árvores que me tocam sempre de novo.
Vivo no pormenor! Gosto de cortar uma folha ou outra à medida que vou andando só para lhe sentir a rugosidade. A de hoje é uma folha muito pequena de um arbusto do jardim, verde escura de um lado e extremamente lisa, felpuda do outro e num tom verde água. Maravilhosas as folhas, se os materiais que usamos na construção fossem tão precisos na combinação…ah o mundo seria um maravilhoso bosque!
A FEUP respira monotonia, blocos geminados sem essência. Qualquer oliveira do lado de fora é mais bela que toda a massa de betão presente. Foi assim que aprendi a projectar? Será?
Corredores sem fim, paredes rasgadas por uma imensidão de vidro, métrica até à exaustão. Os raros momentos de quebra são as escadas, que fico muito feliz de encontrar, despertam-me para o ritmo, a clareza de cada espaço. Imagino materiais diferentes para esclarecer a mente e cores também. Fechar aqui e ali a enorme parede de vidro, enquadrar quem sabe um ou outro elemento, remeter o edifício, esta grande massa para a reflexão. Afinal aqui estuda-se, mas não sei onde me pudesse esconder para pensar. Oh…eu nasci velha!

Ser Voluntário

René Burri – Brasília 1960


Hoje é sexta-feira 13 e levantei-me com o pé esquerdo, mas como sou esquerdina e não sou supersticiosa todos os factores reunidos fazem deste dia, um dia feliz!

Um dia feliz no Lar! Fomos para o jardim e houve gargalhadas e até se falou numa pinga de vinho tinto, que a dona Maria das Neves preferiria substituir por um Whisky. A dona Maria que no café me falou da IIºGuerra Mundial, de lugares que ela viu e da sua irreverência de que tanto se orgulha. Sempre que a ouço tenho aquele sentimento de que alguém deveria perpetuar os seus 88 anos e as histórias incríveis que ela viveu. O tempo passou a voar! A dona Ermelinda no jardim ria com as visões pouco realistas da dona Rosa, achava ela que via gatos e cães, quando eram na verdade pombas! Houve muitos sorrisos, muitas gargalhadas, a dona Alice olhava para mim e ria sem parar, simplesmente porque sim, porque hoje foi um dia diferente. Único para mim e penso também para o Zé que dividiu esta alegria comigo. Agora entendo perfeitamente aquela emoção de que falam, mas sabem como é, na pele tem outro sabor! Sexta-feira 13, um dia maravilhoso, até porque tive direito a ouvir a minha irmã a tocar Bach pela primeira vez.

Ser Humano

Perguntaram ao Dalai Lama:

-O que mais o surpreende na humanidade?

Ele respondeu:
-Os homens… porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro.
…E vivem como se nunca fossem morrer… e morrem como se nunca tivessem vivido.

Eu sou…

Eu sou feito de
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos

Sou feito de
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão

Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci

Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante


Tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas

Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir,para não enfrentar
sorri para não chorar

Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei

Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo.

M.Medeiros