While Away

Giardini della Biennale di Venezia
Sou nómada; mas carrego na alma o peso de todos os livros que li, de todas as paisagens que admirei, de todos os sorrisos que recebi, de todas as lágrimas que chorei.
“(…) E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.” 
– Álvaro de Campos
Agora que se encerra mais uma etapa e outra paisagem se ergue no horizonte, deixo algumas memórias por Lisboa.
O projecto While Away feito para / por quem ama a aventura, reunirá fragmentos de vida capturados pelas objectivas de muitos amantes do desconhecido.
Em exposição a partir de 6 Maio no LX Factory.

Umquotidiano

Dog Days

Dor? Alegria? Só é simplesmente questão de opinião. Eu adivinho coisas que não têm nome e que talvez nunca terão. É. Eu sinto o que me será sempre inacessível. É. Mas eu sei tudo. Tudo o que sei sem propriamente saber não tem sinónimo no mundo da fala mas enriquece e me justifica. Embora a palavra eu a perdi porque tentei falá-la. E saber-tudo-sem saber é um perpétuo esquecimento que vem e vai como as ondas do mar que avançam e recuam na areia da praia. Civilizar minha vida é expulsar-me de mim. Civilizar minha existência a mais profunda seria tentar expulsar a minha natureza e a supernatureza. Tudo isso no entanto não fala de meu possível significado. 

O que me mata é o quotidiano. Eu queria só excepções. Estou perdida: eu não tenho hábitos.  


Clarice Lispector, in ‘Um Sopro de Vida’ 

Check out more about the project: https://instagram.com/p/BEY9SEEGjM0/

To visit until 14 June at Av. Espaço Montepio / Porto. Portugal

Notes for an Epilogue

Notes for an Epilogue. Tamas Dezso 

Se me impedirem de olhar o horizonte, 
de todos os pontos cardeais, 
se este for substituído por muros, que nos dizem que não somos iguais,
voltar-me-ei para o céu,
na esperança de me unir com o cosmos
Quando também isso me for privado e houverem barreiras ao azul,
que me gritam que também sou diferente,
voltar-me-ei para o terra,
ao fitar o pó fundir-me-ei com o chão e seremos um.
Quando tudo for amarras, serei pó,
pó do universo
Sem vozes que me roubem a /de casa,
sem guilhotinas que me torturem o espírito.

Amittere humanismus

“Some things that should not have been forgotten were lost. History became legend. Legend became myth.


Dresden – Richard Peter



Chegamos aqui, a encruzilhada da nossa Era.

Perdemos o respeito por aqueles que criaram a democracia, esquecemos o valor da palavra Humanidade, é-nos alheio o respeito pela Vida.
Em quanto uns pilham desesperados, outros dão-lhes um bilhete de volta para o inferno e alguns deixam que o infernum seja num descampado qualquer aqui ao lado. Berra-se por barreiras, por fronteiras, por latas de tinta vermelha e grita-se com aqueles que por miséria própria, ou talvez por misericórdia, não deixam afundar no mar o grito que lhes dá a costa.
Estamos cegos, de superioridade fútil, de ignorância demagoga, de medo com cheiro nauseabundo a cobardia.
O que nos torna mais dignos e humanos que os outros? As regras, nas quais sucumbimos e azedamos? Os recursos, dos quais decretamos ser donos e senhores? A moral, a estratificação social do verbo subjugar?
O mundo bateu-nos a porta, depois de viver décadas na miséria, está a pedir o que lhes é de direito – a Vida!
E o mundo que já não bate, mas derruba a porta, está inflamado em ódio, está com a alma doente. Chamamos-lhe bárbaros, aqueles que chegam no limbo já com sede de sangue. Também outros, dos nossos, homens do 1ºmundo, chegam das guerras para as quais os mandam, ou desejam ir, ou nem sabem que vão, doentes desse mesmo mal. Esses são igualmente ignorados, poucos são tratados, mas a doença tem nome e não desaparece por encanto. É cruel o que faz, são grutescas as suas manifestações, mas tem nome – trauma de guerra!
Ódio não se vence com desprezo, nem com mais ódio, a antítese do ódio é o amor.
O nosso modo de vida perdeu a data de validade, mas o motivo não são os tiroteios nas cidades do mundo civilizado, foi porque o mundo dito civilizado pisou, maltratou e usou o resto ( Homens, animais, planeta) para seu belo prazer.
Em nome do status quo, estamos hoje disposto a vender a nossa liberdade e ser vigiados por Alguém (alguém conhece esse alguém?), a queimar nas ruas os direitos humanos conquistados com o sangue de tantos, demasiados, durante séculos. Prontos para aromatizar a alma com raiva e travar a grande guerra, aquela que vem depois de todas as outras. Insuflar Egos, proclamar reis, marchar!
!(…) Darkness crept back into the forests of the world.”

Desordem

“Depois dos trinta anos toda a gente está desesperada, mas o escritor continua a dissimular o seu desastre como ser humano através da traição que é escrever tudo o que não pode fazer. Escreve tão intensamente que isso o salva do desespero e dá a sua desordem uma forma de equilíbrio.”
Contemplação  carinhosa da  angústia
Agustina Bessa-Luís 

  • © Annie Leibovitz. From WOMEN: New Portraits

Reporting From the Front

Campo de refugiados em território sírio perto da cidade turca de Cilvegozu
A Bienal de Veneza de 2016 tem como mote “Reporting From the Front”, escolhida pelo arquitecto Alejandro Aravena (Pritzer 2016). 
O tema não poderia ser mais actual, com o problema dos refugiados na ordem do dia, com as mudanças climáticas e as deslocações em massa, o desejo é:
– Por favor, mostrem-nos casos em que o altruismo está em cima da mesa, deem-nos exemplos em que o Homem supera o Ego (significado da palavra no contexto : https://anoitan.wordpress.com/2010/02/09/o-ego-segundo-o-budismo-tibetano/), falem-nos do Social (do latim socius, significa companheiro, está implicito preocupação mútua sobre objectivos comuns)
O arquitecto Álvaro Siza. 
Até aqui nada de novo, Portugal ou leva um jornalzinho de quinta ou o que tem de melhor.
Nestes termos o arquitecto Siza é presença certa. Até porque o mesmo possui obra feita no campo social e por isso é nítida a relevância da sua participação. 
A pergunta agora é mais – é só isso que Portugal tem para mostrar? No campo da arquitectura social, na discussão de uma intervenção consciente, é tudo o temos?
É tudo o que vinte e tal mil arquitectos portugueses têm para dizer? 

Várias vezes Aravena disse querer dar prioridade a arquitectos que fogem do status quo.
Na página de um dos curadores portugueses pode-se ler “Neighbourhood, Where Álvaro meets Aldo” e eu fiquei com a sensação que era mais ” Neighbourhood, Where Star architect meets Star architect”.
Pobreza não é poesia!

Children of Heaven

Filhos do Paraíso, do realizador Majid Majidi é um filme muito difícil de adjectivar. Fala de amor, de sacrificio e da importância das coisas simples. Este filme iraniano é uma pérola, ao descobri-lo conhecemos a cultura, a língua, o urbanismo, mas melhor que isso – O altruismo!