O caminho dos indesejados

Para onde caminham? 

Entre arames farpados, vozes exaltadas e muros erguidos é evidente que os migrantes são personae non gratae em solo europeu.
Sabendo que fugiram de um lugar com muitos mais muros, arames e outras coisas bem piores, acredito que para eles o que fazemos não seja mau. Acredito que até possam pensar que estas barreiras sejam normais na Europa. Bem, não são, ou pelo menos não costumavam ser, mas a vergonha do muro de Berlim parece que nos abandonou – há vergonhas que nunca deviam esmorecer.

Para onde caminham e o que esperam alcançar? 

Paz, posso dize-lo antes deles. Mas como se encontra tal coisa num espaço onde não há lugar? Num continente perdido e sem valores, onde se dobra e redobra, pisa e espezinha, companheiros de um sonho moribundo ao qual chamamos união? Não se encontra!

A medo lá vem a ideia – é preciso resolver, lá na terra deles, onde outros e nós fomos semear a discórdia, é imperativo resolver. 
É preciso sim, é urgente, é indispensável, é o Certo! Mas não é porque  o povo deles nos esta a desembarcar na costa, fartos da fome, do medo, da tortura e da morte… É o certo a fazer, porque o mundo precisa de valores nobres que esta velha Europa parece há muito ter esquecido.

Mas enquanto a solução não chega, eles vão continuar a chegar e mais e muitos outros chegarão. Para esses não serve, não chega o desumano transitório, o não-desejado compromisso. Acampamentos não são solução, enfiar centenas de migrantes em comboios passando-os entre fronteiras para que seja problema de outros, não é a solução – é cobardia!
Devolve-los  aos países de origem com o rótulo de ilegal, migrantes, emigrantes seja lá qual for a etiqueta que lhes queiram dar é vergonhoso. Exilados politicos, ou não, com guerra, ou não, o simples pensamento de repatriamento é cruel, é um cancro de ódio.
Eles que enfrentaram a morte ou viveram mesmo centenas delas para chegar até aqui, agora devem simplesmente baixar a cabeça e aceitar o malfadado destino que lhes é imposto?

A Europa na sua profunda depressão, econômica mas sobretudo social está pronta para viver e conviver com estes migrantes durante anos, ou mesmo décadas? Não, não está!  Ninguém quer pensar sobre isso, bem meu senhores, eles são reais e não vão desaparecer por magia. 
O que nos resta fazer?! Encarar o problema de frente, aceitar que eles vão ficar e que é necessário começar a pensar em estratégias sustentáveis.

Kabul passou de 0.5 milhão de habitantes a 5 milhões em menos de uma década, com a chegada de migrantes e refugiados. Que lição podemos tirar daí? Palavra de ordem – Organização!
Precisamos de saber quem são, precisamos de lhes tratar das feridas corporais, mas sobre tudo psicológicas. As crianças precisam de voltar para a escola, ou ir pela primeira vez a escola. As famílias precisam de um lugar ao qual chamar casa. É urgente que eles ganhem a sua própria subsistência, que estejam envolvidos no processo de criar e reinventar o amanhã. Finalmente temos que por a carta em cima da mesa, encarar o facto que muitos deles a médio e longo prazo se irão tornar europeus.

Nós europeus não temos empregos! Certo, certíssimo. Pois bem, criem-se para eles e para nós, eles precisam de nós e nós precisamos deles, se virmos na adversidade um meio de nos redesenharmos para um futuro melhor.

A quem cabe todas estas decisões? De certo não é a um punhado de homens de fato e gravata, para quem tudo tem um valor numérico. Vidas não se medem em euros, nem em votos! A decisão é de todos nós, a questão é – vamos decidir o que é certo, ou o medo vai-nos levar a repetir os mesmos erros do passado?

Não há asiático, africano, árabe ou europeu. O que há são pessoas que antes de mais nasceram num planeta que nunca lhes pediu ou privou de  nada. Isso veio depois, quando os Homens reclamaram para si o que é de Todos os Seres! 

Cinema francês

Apaixonada por este filme pelos mais diversos motivos, entre eles porque esta música reflecte em cada palavra o que senti há 14 anos atrás.
“Ne pas se retourner, s’éloigner un peu plus
Il y a la gare, un autre gare et enfim, l’atlantique
Mes chers parents, je pars
Je vous aime mais je pars
Vous n’aurez plus d’enfant
Ce soir
Je n’m’enfuis pas, je vole
Comprenez bien, je vole” 

Science for Designers: The Meaning of Complexity

Damasco, Síria © Marcus Lyon

“A boa arquitectura não confunde estes dois aspectos da vida e da arte de uma maneira mutuamente destrutiva, mas utiliza-os para servir um ao outro. Quando inserimos um “tema” metafórico no projecto, após alguns anos este começa a parecer ridículo. Isso é porque a imagem do lado externo não tem relação inerente ao interno – é pouco mais que uma camada superficial. E funciona muito mal. Portanto, o caso dos outrora futuristas computadores pessoais, a expressão de uma outra era que flerta com a tecnologia, parece agora absurda. As peles futuristas de famosos museus de arte e salas de concerto já estão antigas e datadas, de modo que agora os únicos clientes para tal estilo são os países de terceiro mundo que apenas seguem as tendências arquitetônicas ocidentais.”

http://www.archdaily.com.br/br/01-128927/projetistas-nao-entendem-de-ciencia-e-isso-e-perigoso?ad_medium=widget&ad_name=articles-article-show

http://www.metropolismag.com/Point-of-View/March-2012/Science-for-Designers-The-Meaning-of-Complexity/

DESIGNED FOR THE FUTURE

Children’s Playground for Rural Ghana © Design group of UN volunteers. © Image La Voulp
I invite you to join us in October for the Workshop of this wonderful project. 
Children’s Playground for Rural Ghana © Design group of UN volunteers. © Image La Voulp
Children’s Playground for Rural Ghana © Design group of UN volunteers. © Image La Voulp
Children’s Playground for Rural Ghana © Design group of UN volunteers. © Image La Voulp

The book

Hoje entrei num antiquário, saí de lá com um pequeno livro do Klee. Apontei tudo num papel para não me esquecer. Tem uma dedicatória e uma linda imagem do Teatro dell`Opera Buffa. Trouxe-o comigo e não sei porquê deixou-me triste, livros oferecidos com amor não deviam acabar num lugar para serem vendidos ao quilo como se fossem desprovidos de memória e não tivessem aquecido o coração de alguém. Como se fossem objectos sem Alma!

Letter for an intern

CARTA A UM ESTÁGIARIO

Dedicatória 

Esta carta é para todos aqueles que não encurtaram caminho, com maroscas ou trafulhices, para aqueles
que encontraram força para seguir em frente. Para os futuros, ex e presentes estagiários, para aqueles que
acreditam numa arquitectura mais humana, seja ela construída ou feita entre os pares todos os dias nos
gabinetes, através de gestos e palavras.

A ironia que se segue é de um espirito que não se soube nem sabe se acomodar.
Hotel Vals, Morphosis Architects 
O estudante de arquitectura não tem vida, é o que se costuma dizer.

Então e o que é que se passa com o estagiário?

Esse meu caro amigo, morreu e vive no limbo. 
Porque não há nada pior que ser-se o intermédio de
qualquer coisa. Nesse espaço entre algo e lugar nenhum, deparamo-nos com o que há de pior no ser
humano, a escravatura legitima e socialmente aceite.
O estagiário raramente é pago, não tem horas de comer, de dormir, não
tem vida, ou nome, é uma espécie de coisa – uma besta.
A besta que só tem hora de entrada, direito a directas e bónus de terapia visual em frente a um CAD
qualquer. Faz trabalho de segundo ajudante de obra, acarta material para maquetas infindáveis, monta e
desmonta estantes em ferro, limpa cozinhas, atende telefonemas e compra comida para os amos.
A besta, não vê muito a luz do dia, reza a lenda que por vezes nem ao domingo e estamos a falar de países
sem mácula, como os do centro e norte da Europa. Venderam-nos o diabo na faculdade, foi o que foi.
A bem prezada e maravilhosa arquitectura, referenciada vezes sem conta pelo mundo fora, criada por
seres humanos cheios de valores, monetários claro.
Onde é que estávamos?
Ah sim, no estagiário de arquitectura.
Aguenta!
Aguenta, que os outros também aguentaram.
Aguenta, que depois tens um número, talvez o possas colocar na orelha como os animais nos centros de
abate.
Aguenta, que depois tens a felicidade de pagares quotas, com o dinheiro dos teus pais provavelmente, mas
não penses nisso agora. Findados noves meses (vá, tens que dar alguma margem), meu querido estagiário, terás a honra de ser chamado de Arquitecto, a ordem estabelecida diz que sim. 
Nesse dia deixas de estar
no limbo, ainda que o mais provável seja a entrada directa no inferno do desemprego. Não desesperes, nos
dias que correm és chamado de jovem arquitecto aos 40.

Mas, enquanto esse dia não chega, goza as maravilhas e honras de ser estagiário.
Afinal, podes compreender que a bela poética arquitectónica, não passa na maioria dos casos de um rale
negócio. Que se constrói o que não faz falta, que o lugar não tem importância nenhuma, que a atmosfera é
só uma palavra bonita, que menos não é mais, mas que mais gera sempre mais.

“Arquitectura ou Revolução”?!

És um idealista meu caro estagiário e no entanto ainda não entendeste nada – o Corbusiacas, como lhe chamava o mestre Távora, tinha o seu quê de espertalhão. 
A arquitectura (com letra minúscula) não é feita para os que vivem nela, nem a
pensar no futuro, mas para aqueles que lucram com ela. É feita de egos!

Não me faças rir, porque nós não estamos aqui para brincar.

Então não te ensinei nada?