“(…) Do meu pai não sei o nome; disseram-me que se chamava Deus, mas o nome não me dá a ideia de nada. Às vezes, na noite, quando me sinto só, chamo por ele e choro, e faço-me uma ideia a que possa amar…Mas depois penso que não conheço, que talvez ele não seja assim, que talvez não seja nunca esse o pai da minha alma…
            Quando acabará isto tudo, estas ruas onde arrasto a minha miséria, e estes degraus onde encolho o meu frio e sinto as mãos da noite entre os meus farrapos? Se um dia Deus me viesse buscar e me levasse para sua casa e me desse calor e afeição… Às vezes penso e choro com alegria a pensar que posso pensar…Mas o vento arrasta-se pela rua fora e as folhas caem no passeio…Ergo os olhos e vejo as estrelas que não tem sentido nenhum… (…)” – Bernardo Soares ( Livro do Desassossego)
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