Cocuana

Baldegg – Nuno Ribeiro
Hoje dei por mim a falar sem tristeza do avô…
Aquele homem extraordinário  que me ensinou a amar os animais, as plantas… que me ensinou a diferença entre persistência e teimosia.
O avô; que naquele dia há quase uma eternidade, me fez entender que estaleiros não são lugar para crianças, mas também lá foi dizendo que seria o meu se a paixão pelos tijolos, as tábuas e desenhar espaços no chão com um pau teimassem em persistir. 
Esses sintomas posso dizê-lo hoje, nunca passaram e uns anos mais tarde, lá fui eu para as urgências no dia do meu aniversário, por não resistir as pedras, aos tijolos e a madeira… O avô nesse dia já não pode esconder gelados ou morangos para me animar, mas de certo lá do alto não deixou de sorrir.
Depois houve aquela altura que cresceu o amor por África, por Moçambique, pela tua terra…Aquela terra que aprendi a sentir falta, ainda antes de a conhecer, por obra tua avô… Tantas coisas foram obra tua, os presépios gigantes com ribeiros, moinhos, musgo e estrelas. As fileiras de tomateiros, as bananeiras que teimavas em plantar num clima demasiado inóspito. As histórias que de tenra idade passei a ler na ânsia de tudo assimilar e entender, misturadas com o teu sorriso de orgulho e olhar inquieto. Entendo agora o olhar, quando me deparo no caminho e tardiamente sei seguir… 
O avô, que nos fins de tarde de verão se sentava sozinho a fumar… foi nesses dias quentes que aprendi a memorizar e amar os espaços pelos cheiros,  os sons, as cores e as texturas; sem o saber…