A house for Pink Floyd

Render de um dos espaços do projecto – cortesia do artista 3D Nuno Ribeiro www.lavuolp.ch

How
would the painter or poet express anything other than his encounter
with the world“ – Maurice Merleau Ponty
Much
of the modern movement has drawn the intellect and the sight, but
left aside the human body and it’s sensations – (…) – but also left
the memories and the dreams dislodged.” – Juhani Pallasmaa
The
work is based on Man meeting with himself and does so through the
senses.
Actual
Architecture has the ease of technological advances that everyday
flood the offices with new materials. However all these amenities
have achieved was for buildings to be deprived of presence, making
them the fruit of unbridled consumption, of the ostentation and many
times from the creator’s Ego. Today architecture is endowed with a
start system that dictates the trends as the world finds itself
grappling with political crises and austerity. All these components
have assembled an explosive cocktail when we look at the landscape of
cities only to realize that the concept of “inhabit” is degraded.
With
this work we aim to give back to Man, in any place of the World –
squares, gardens, glades, parking lots from big malls, etc – the
right of inhabit the planet without stratifications of any kind.
We
have done it by going back to the children’s imaginary, to the age of
dreams and curiosity and in a simple and pure way we created a
multitude of spaces that enable each one, in a singular way; to Be
and to think.
To
the image of the ordinary house we subtracted it’s mass as an
allegory to the present and to the reality we now live in; because
both rely on the way we gaze and feel them. It’s also a symbol of
change because the absence of mass gave to it a building site
character and also a lightness that emerged to oppose the image of
concrete boxes.
Within
the space of the house we laid five boxes made of white concrete in
the exterior and black in the interior to keep the game of
oppositions.
We
wander through a synesthetic route that begins from North and ends to
Nascent. Through it we primarily find the purification volume that
intends to raise our vision and audition senses.
In
the following box we find the shadows, that symbolize the air. It is
aimed for the individual to question about the visually perceptible
truth and also for the visual experience to assume tactile
characteristics – feeling with the hand the form that is observed.
Through
the pathways between the boxes we are at constant presence of the
soil, the nature, the use of the smell sense that refers to the
memories and to the quest of Man, through glades that were created
with the subtraction of the total volume.
In
a third moment the visitor is confronted with the light that
symbolizes the fire and the sense of feeling through the skin.
After
reestablished the equilibrium of the senses and the soul and mind
opened we find the last two spaces. One is a space with books and the
other with dialog, music and exchange for the house of Pink Floyd is
what each and every one of us want it to be.
With
this project we wish to return to Man a place for him to pulse with
the World, a space that appealed to solidarity and to the strength of
the use of words.
http://arqbauraum.wix.com/arqbauraum
http://icarch.us
http://www.designboom.com/architecture/a-house-for-pink-floyd-is-a-place-for-the-mind-and-soul-11-05-2013/
http://www.archdaily.com/453358/a-house-for-pink-floyd-compeititon-entry-arqbauraum/
http://architizer.com/projects/a-house-for-pink-floyd/

PT

How would the painter or poet express anything other than his encounter with the world“ – Maurice Merleau Ponty
Grande parte do movimento moderno desenhou o intelecto e o olhar, mas deixou de parte o corpo humano e as suas sensações – (…)- como também deixou as memórias e os sonhos desalojados.” – Juhani Pallasmaa
O trabalho baseia-se no encontro do Homem consigo próprio e fâ-lo através dos sentidos.
A arquitectura actual possui a facilidade dos avanços tecnológicos que todos os dias inundam os gabinetes com novos materiais. Contudo essas facilidades fizeram com que a maioria das construções sejam desprovidas de presença, são fruto do consumo desenfreado, da ostentação e muitas das vezes do Ego do seu criador. Hoje a arquitectura é dotada de um star sistem que dita as tendências e o mundo vê-se a braços com políticas de crise e austeridade. Todas estas componentes fizeram um coctail explosivo e quando olhamos para o landscape das cidades percebemos que o conceito de habitar está degradado.
Com este trabalho pretendemos devolver ao Homem, em qualquer lugar do mundo, praça, jardim, descampado, parque de estacionamentos de grandes centros comerciais, etc. o direito de habitar o planeta sem estratificações de qualquer tipo.
Fizemo-lo voltando ao imaginário das crianças, ao tempo dos sonhos e da curiosidade e de uma forma simples e pura criamos uma multiplicidade de espaços que permitem a cada um, de forma singular; Ser e pensar.
À imagem da casa comum, subtraímos-lhe a massa, como alegoria ao presente e a realidade na qual vivemos; pois ambos dependem de como olhamos e sentimos. É também uma símbolo da mudança, pois a ausência de massa deu um caracter de estaleiro aos alçados, mas também de leveza que se veio contrapor à imagem das caixas de betão.
Dentro do espaço da casa colocamos 5 caixas em betão branco no exterior e preto no interior, para manter o jogo de oposições. 
Trilhamos um percurso sinestésico que começa a Norte e acaba a Nascente, nele encontramos primeiramente o volume da purificação que pretende apurar os sentidos da visão e da audição.
Na caixa seguinte encontramos as sombras, que simbolizam o ar, pretende-se que o indivíduo se questione sobre a veracidade do que vê e também que essa experiência visual assuma características tácteis, de sentir com a mão a forma que observa.
Nos percursos entre as caixas estamos em constante presença da terra, da natureza, do uso olfacto que remete para as memórias e a busca do Homem, através das clareiras que foram criadas com a subtracção do volume total.
Num terceiro momento, o visitante é confrontado com a luz, que simboliza o fogo e do sentir através da pele.
Nos dois últimos espaços após restabelecido o equilíbrio dos sentidos e aberta a alma e a mente encontramos um espaço com livros e um outro de dialogo, de música, de troca pois a casa dos Pink Floyd é o que cada um quiser fazer dela.
Quisemos com este projecto devolver ao Homem um lugar onde pulsar com o mundo, um espaço que apelasse à solidariedade e à força do uso da palavra.
O projecto pode ser visto aqui:

http://arqbauraum.wix.com/arqbauraum

L`Agnès:

O reflexo de hoje

Nostalgia, Polaroid,  Andrei Tarkovsky
A arquitectura em 2015 não será muito diferente do que é hoje, porque ainda que o mundo corra e as pessoas tendam a viver cada vez mais do imediato a arquitectura, tal como a natureza, precisa de tempo.
De facto, o tempo é um dos mais belos agentes no que diz respeito à arte de projectar e tem-se perdido no marasmo da burocracia e da suposta evolução. Os gabinetes de arquitectura têm ritmos cada vez mais galopantes ainda que no final de contas o objectivo seja lugar nenhum.
Nos tempos que correm, constrói-se cada vez menos e, em detrimento disso, existem inúmeros concursos para todos os gostos e feitios. São rampas de lançamento, mas no fundo a oportunidade deveras vantajosa é para aqueles que podem escolher entre centenas de projectos e pagar apenas um. Afinal, ninguém entra num restaurante e come todos os pratos e no final paga apenas o que mais lhe convém. Seria belo que este panorama se alterasse em dois anos, embora o número crescente de arquitectos portugueses aponte em sentido contrário.
Com o número de arquitectos a aumentar e as obras a diminuir, não é só normal que os gabinetes procurem esses meios de subsistência é também expectável que a qualidade dos projectos decaia. Porque infelizmente para nós, uma grande parte da sociedade ainda não faz ideia do que fazemos, para que servimos e porque devemos ser pagos.
Porém, estas são apenas hipóteses num vasto leque de possibilidades, a única certeza sobre a arquitectura em 2015 é que ela será o reflexo do que fizermos hoje e todos os dias. Se perdermos alguns vícios, talvez no centro dela volte a estar o Homem ao invés do ego do seu criador como acontece hoje tão frequentemente. Quem sabe os arquitectos voltem aos tempos do pensamento e do diálogo sem espaço para desfiles de vaidade e projectos megalómanos. Ainda que tal não aconteça é bom pensar que pode ser assim. Embora o caminho seja longo, é bom pensar que os projectos de reabilitação, reconversão, repovoamento vão ganhar cada vez mais força porque existem muitos edifícios vazios, fechados, abandonados, empedernidos na sombra que exalam ainda luz.
Assim, resta desejar que o arquitecto que se encontra todos os dias entre dois fogos opte por ser o agente criativo em detrimento do homem de negócios, tal como referiu Alvar Aalto. Porque o mundo precisa urgentemente de se tornar mais habitável e humano. E não conheço melhor forma para começar que pela arquitectura.

Quando a arquitectura não dorme

-5.57 ft/ -170 m, artista Joana Pimentel

“O estagiário não é entendido como um verdadeiro trabalhador, hoje em dia é moralmente aceite que os jovens licenciados tenham de provar o que valem, quase como uma praxe laboral. Isso faz com que sejam usados como mão de obra barata, ou até gratuita, criando concorrência desleal no mercado de trabalho. O estagiário, ao ansiar entrar no mundo laboral e ser tratado com dignidade, submete-se e leva a situação até ao limiar do tolerável.”

Ode ao Grischun

Vals, Grischun © Susana dos Santos
Durante anos subsistiu a incógnita – onde fica esse lugar que chamo casa?
A minha pátria, tal como Pessoa, é a língua portuguesa, mas o meu lar, o sense of home, esse levou anos a desvendar.
Depois de todas as intempérias finalmente encontrei a resposta e por isso hoje volto al Grischun, nach Graubünden, al Grigioni. O território perdido no meio dos Alpes que me conhece desde sempre, que conheci antes mesmo de ter consciência do meu eu. Esse lugar que me observou menina a apanhar flores nos campos e a fazer bolas de neve nas suas encostas, o mesmo que me viu skiar, escalar as montanhas, nadar nas águas cristalinas dos lagos, dias, meses, anos a fio.
Volto, no dia do meu aniversário, porque morar na Suíça, não é o mesmo que estar em casa. A Suíça central é muito diferente do Grischun, as pessoas são menos cordiais e andam stressadas. Os edifícios são caoticamente arrogante e a Natureza quebra-se perante o carro, o barco, o desfile de vaidades que acontece todos os fins-de-semana.
Por isso, aqui estou, pelo cheiro da minha infância, pelas chamonas nas quais dormi, porque este lugar guarda nas pedras as lembranças de quem sou. 
Aprendi aqui a ouvir o silêncio, a respeitar e a ajudar o outro, a amar e a preservar a Natureza. Nestes trilhos descobri o significado da palavra esforço, agradeci o milagre de uma nascente de água. Foi nestas montanhas, neste lugar que me fiz gente e aprendi coisas que não vem nos livros.
Tentei amizades com esquilos, deslumbrei-me com as acrobacias dos chamuochs e aprendi a chamar por nome próprio cada uma destas árvores. 
Estou aqui, voltei meu amado Grischun, mas tu nunca partiste, fazes parte de quem sou, reconheço no meu caracter os vincos do que foi crescer aqui. 
Nenhum lugar desperta em mim este afecto…respiro fundo e adormeço tranquila…finalmente cheguei!

Atelier L`Agnès:

As tocas

Kally – © Nuno Ribeiro

Olhou para mim… 
Então não me reconheces? Isto é quem eu sou! 
Por mais que berres, corras atrás de mim com olhos de louca, eu vou continuar a minha Arte no tapete azul.  Vou transformar a cama na zona das tocas e quando ela estiver, como é que tu dizes? Esfrangalhada; é porque tem penas lá dentro que usas esse termo?
Vais ter que arranjar outra coisa fofinha nova, ou então não… 
Vamos brincar todos as tocas, porque dás aqueles gritos de felicidade, corres à minha frente e escondes a face entre as mãos… E eu gosto, gosto muito, porque isto é quem eu sou, mas nesses dias tenho um vislumbre de quem realmente és.

L`Agnès:

Pancho Guedes

Edificio Abreu Santos e Rocha (1955), arquitecto Pancho Guedes em Maputo, Moçambique
“Durante vinte e cinco anos em Moçambique, inventei e construi edifícios suficientes para formar uma cidade de tamanho considerável. Uma cidade imaginária, mas bem provável, caótica e composta de memórias, uma cidade de várias pequenas e dispersas facilidades de regularidade obsessiva.”
Pancho Guedes,An Alternative Modernist, 2007

Qualquer caminho leva a toda a parte

Herzog & Meuron, Susana dos Santos
Qualquer caminho leva a toda a parte.
Qualquer ponto é o centro do infinito.
E por isso, qualquer que seja a arte
De ir ou ficar, do nosso corpo ou espírito,
Tudo é estático e morto. Só a ilusão
Tem passado e futuro, e nela erramos.
Não ha estrada senão na sensação
É só através de nós que caminhamos.
Tenhamos pra nós mesmos a verdade
De aceitar a ilusão como real
Sem dar crédito à sua realidade.
E, eternos viajantes, sem ideal
Salvo nunca parar, dentro de nós,
Consigamos a viagem sempre nada
Outros eternamente, e sempre sós;
Nossa própria viagem é viajante e estrada.
Que importa que a verdade da nossa alma
Seja ainda mentira, e nada seja
A sensação, e essa certeza calma
De nada haver, em nós ou fora, seja
Inutilmente a nossa consciência?
Faça-se a absurda viagem sem razão.
Porque a única verdade é a consciência
E a consciência é ainda uma ilusão.
E se há nisto um segredo e uma verdade
Os deuses ou destinos que a demonstrem
Do outro lado da realidade,
Ou nunca a mostrem, se nada há que mostrem.
O caminho é de âmbito maior
Que a aparência visível do que está fora,
Excede de todos nós o exterior
Não para como as coisas, nem tem hora.
Ciência? Consciência? Pó que a estrada deixa
E é a própria estrada, sem a estrada ser.
É absurda a oração, absurda a queixa.
Resignar(-se) é tão falso como ter.
Coexistir? Com quem, se estamos sós?
Quem sabe? Sabe […] que são?
Quantos cabemos dentro em nós?
Ir é ser. Não parar é ter razão.
Fernando Pessoa