“(…) Do meu pai não sei o nome; disseram-me que se chamava Deus, mas o nome não me dá a ideia de nada. Às vezes, na noite, quando me sinto só, chamo por ele e choro, e faço-me uma ideia a que possa amar…Mas depois penso que não conheço, que talvez ele não seja assim, que talvez não seja nunca esse o pai da minha alma…
            Quando acabará isto tudo, estas ruas onde arrasto a minha miséria, e estes degraus onde encolho o meu frio e sinto as mãos da noite entre os meus farrapos? Se um dia Deus me viesse buscar e me levasse para sua casa e me desse calor e afeição… Às vezes penso e choro com alegria a pensar que posso pensar…Mas o vento arrasta-se pela rua fora e as folhas caem no passeio…Ergo os olhos e vejo as estrelas que não tem sentido nenhum… (…)” – Bernardo Soares ( Livro do Desassossego)
Ber

Tudo definha

A little chaos

Olhando para trás tudo definha…E aqueles que achávamos conhecer, que definíamos de amigos…Passam na vida e são apenas pessoas! Indivíduos sem vulto num passeio de cidade, já não lembram, não sentem, cegaram.

Substituíram cumplicidades por risos desbotados e frívolos, antigas batalhas por jangadas de pedra.
Caminhamos sem perceber… Num dia cinzento banhado de lucidez momentânea, vemos, que o foi já não é. Que aqueles que eram, já não são e o que sentíamos era apenas real dentro de nós. Segue-se uma nova jornada, um novo dia nasce!

Tudo é possivel

“Comover-me com o absurdo de uma cor, um relance, uma explosão branca ou um buraco negro de silêncio.

Fazer do meu caminho, e do teu, uma experiência de Vida e não de constrangida pequenez quotidiana.

Quero festa e romance, gestos de poesia, técnica, surpresa e função.Quero tudo, e já. 

Porque tudo é possivel.”


Mário Caeiro

Autor: Bruno Martins

POURED SHADOW – Humanizing space

“Have you ever noticed the wonderful light that shadow has?” Manuel Tainha
In a pre-existing building, with its intrinsic geographical constraints (south slope of Douro’s river, Vila Nova de Gaia) and its preceding usage (Porto wine cellar) a Forum has been developed and adapted.
This art related program became ideal to transform the constraints into advantages, transforming this former warehouse into a vivid space humanized by light.
When one visits a rough space, which has fine works inside, full of soul and desire, the architectural design must undertake all possible variants to let the art shine and transform the space by itself.
The visitor shall not be dazzled by the beauty of the details, but rather by what indirect and defuse light has to offer through enhancement and embellishment.
Beauty lies in mystery, an area that seems dead, cold and empty, where surprise lies in moving shadows, which seem to have been shed as light in a canvas. The visitor is the painter! He lives in the canvas, he is the canvas, makes the canvas… When he leans over the window and sees the other bank (Oporto) so vividly illuminated he realizes the dark density in which he is involved.
Not removing this mystery, the aim is to enhance these key moments with inherent architectonic elements (skylights, openings of various types, materials), directing the senses. And in the dim and tired light we are guided by rare bright spots, drops of light that fall into shadow and tint the space.
This uncertain and precarious light which is a constraint for a constant experience becomes the biggest ornament in a room full of art works. It changes every day, every hour, penetrates weak through the glass, like a last breath, submerge to deafen all who see in darkness a shelter for the thought.